Faz exatamente uma semana que eu vi o filme de estréia de Miranda July e eu ainda não sei vou ter argumentos corretos para o fato de não ter gostado dele. Eu, Você e Todos Nós guarda uma diferença do cinema das personagens à parte que infesta o cinema independente dos Estados Unidos há um bom tempo: ele se envolve numa aura de ternura e fragilidade diferente da desilusão dos filmes de um Todd Solondz, o coitado que virou sinônimo de indie ruim, da nostalgia oca de um Hora de Voltar, ou da tentativa de comédia maluquinha.
Esta moldura garante ao filme um ar de exclusividade, de certa forma, raro neste universo de exploração ou exaltação de personagens marginais. July, que também tem um dos principais papéis, no entanto, não deixa o filme escapar de uma série de pecados, sobretudo na caracterização destas personagens. Quase todos podem ser encaixados em definições como “a maluquinha”, “o psicótico”, “o pedófilo”, “a menina sexy”, “a enrustida”, embora sempre travestidos de uma fragilidade que os deixa talvez excessivamente simpáticos para um público muito específico, um público, exatamente isso, um público indie.
É aí que a aparente delicadeza do roteiro de July se aproxima perigosamente, e a meu ver não escapa, dos clichês de seus filmes-parentes. Mesmo se esforçando para não contaminar as cenas com gratuidade – não é bem esse o termo – a diretora-roteirista recorre muitas vezes a algumas táticas bastante desagradáveis, como tentativa de dar poesia a, olha só, a história de um peixinho dourado ou na célebre cena dos dois irmãos numa sala de perversões sexuais na internet. Neste momento, a fragilidade do filme se revela meio calculada e o que aparece verdadeiramente frágil é a intenção de Miranda July. Não seria essa uma cena Solondziana?
Pois então, por mais que tenham decretada rasa a compreensão de quem faz uma comparação entre os cinemas de Miranda e de Solondz, eu não consigo dissociá-los, mesmo que a oficina seja outra. Para os dois, interessa o cinema-celebração de personagens esquisitas aos olhos comuns, que são condenados por não entederem um outro conceito de puro e belo. Mas o elogio ao incomum não é o problema e, sim, a dicotomia de se louvar os marginais através de estereótipos que os enclausuram como animais selvagens numa jaula de zoológico.
Eu, Você e Todos Nós
[Me, You and Everyvone We Know, Miranda July, 2005]
Miranda July é assim mesmo: ame-a ou odeie-a. Não gosto de tudo que ela faz no cinema ou no seu livro mais famoso (“É claro que você sabe do que estou falando” – contos). Mas Miranda tem uma mente que não pode ser comparada ao lixo indie que às vezes dá as caras. Eu entendo por que você pensa assim, e já senti isso com outros filmes. E embora esse filme não mereça ser um objeto de idolatria por parte de algum “determinado público”, ele não é propriamente vazio de conteúdo. Numa escala de um a dez, daria 6 ou 7, levando em conta que dou 2 ou 3 pra maioria dos filmes que vejo hoje em dia.